17 agosto, 2006

A toque de caixa: As melhores memórias

Vale para o CD (duplo) e para o DVD, que partilham tanto o título genérico como as duas dezenas e meia de canções – ‘A História Toda: Ao Vivo No CCB’ é um documento poderoso de uma voz que há muito se não confunde, de uma sensibilidade que cresceu no seu caminho a solo (não solitário), de um homem que parece superar-se nos encontros com o palco. Tem hinos espalhados à medida dos apetites, tem abordagens refrescadas para canções que sabemos ‘par coeur’, mais novidades e aventuras. Tal como no seu anterior registo de concerto (gravado há dez anos), mistura o baú dos Trovante com o património próprio, havendo mesmo alguns temas que transitam de então para agora – mas, pergunta-se, seria legítimo esquecer ‘125 Azul’ ou ‘Memórias de Um Beijo’, deixar de fora integrantes do seu ‘código genético’ como ‘Feiticeira’, ‘Chave dos Sonhos’ ou ‘Neva Sobre A Marginal’? Não parece.
Em relação ao seu antecessor, este disco tem a mais o piano e a direcção musical de Miguel Nuñez, capaz de injectar balanço sem efeitos secundários (ouça-se, por todas, ‘Foi Como Foi’) e, ao mesmo tempo, de limpar tudo aquilo que – agora, que é fácil – poderia soar antes redundante ou escusado. Tem as cumplicidades já antigas de João Gil, parceiro nos Trovante, e do maestro cubano Pablo Milanés, em boa hora convidado para a festa. De resto, vale a pena parar e pensar nisto: no ao vivo anterior, Represas abria a porta ao virtuoso irlandês Davy Spillane e às suas ‘pipes’; aqui, cria espaço para Milanés – no CD, por exemplo, é ao criador de ‘Si Ella Me Faltara’ que cabe a abertura do segundo disco, além de eternizar, também em concerto, os espantosos duetos-duelos de ‘Yolanda’ e ‘Feiticeira’. Que outro cantor português mostraria esta disponibilidade de ceder a primazia, não só na sala mas nos suportes gravados que ficam para a posteridade? Talvez seja mais elegante não prolongar a questão.
Há outro trunfo evidente: as canções de ‘Fora de Mão’ (nada menos de meia dúzia), o mais fulgurante dos álbuns de originais do autor desde o início da caminhada em nome próprio, com ‘Represas’. Dir-se-ia que, na criação como na presença em cena, Luís Represas vive em pleno as doçuras da maturidade ou, como já aqui se escreveu, a ‘inquieta serenidade’ – ‘Eu Vi’, ‘Que Valha A Pena’, ‘Acontece’, ‘Mariana’, ‘Não Ponhas O Vestido’ e ‘Da Próxima Vez’ são mesmo valores acrescentados a um currículo que, convenhamos, já leva anos, discos e temas demais para poder ser fruto de uma qualquer ilusão óptica (ou de audição) colectiva. Há aqui segurança, apelo, eficácia na verdade, um particular bom gosto e uma emoção que permite juntar estas memórias todas, com e sem beijos à mistura, e continuar com os olhos postos no que há-de vir.
Fica a curiosidade de Represas, com os Trovante (Aula Magna, Campo Pequeno, Pavilhão Atlântico) e em percurso autónomo (duas vezes CCB), nunca ter gravado ao vivo na ‘catedral’ do Coliseu dos Recreios. Ainda vai a tempo – só o título ‘A História Toda’ merece discórdia, que haverá mais para ele contar e cantarmos todos. Vale uma apostinha?




Luís Represas já leva anos,
discos e temas demais para ser
fruto de uma qualquer ilusão óptica



João Gobern

(enviado pela Cristina Fernandes)

1 Comments:

Blogger Pêndulo said...

ora bem... a proposito do Coliseu de Lx... há cerca de um ano atrás, tinha eu o meu lugarzinho à frente para ver Anthony & the Johnsons... e começa-me a chover em cima!!!! literalmente!!!!!

pelo menos no CCB não chove... ou no Olga Cadaval...

17/08/06, 21:12  

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